Ali, todos ao molho, dentro de um autocarro todo apinhado. Ah! Esse turismo desenfreado...Isto um dia vai dar um estoiro...ai vai, vai! As pessoas protestaram e o estoiro aconteceu. As ruas ficaram vazias de gente. Só se viam casas e carros parados. Os níveis de CO2 desceram como nunca se tinha visto. Agora que o ar se podia respirar as pessoas usavam máscaras. Tornou-se obrigatório. E os afectos deixaram de poder fazer-se. Já não podíamos dar beijinhos, nem abraços. Agora usávamos máscaras e andávamos às cotoveladas como forma de cumprimento. Pensávamos que isto duraria dois, três meses, mas já passaram oito e os restantes já são uma certeza de que isto é para continuar. As pessoas estão a mudar assustadoramente. Parece estar a notar-se uma espécie de instinto selvagem. Nas ruas, passamos uns pelos outros com a devida distância e parecemos desconfiados. Ontem, na estrada, quase atropelei uma pessoa, por ter descido do passeio para se cruzar com outra. E depois há aquelas pessoas que não se importam, que usam a máscara no braço ou por baixo do queixo, e se encostam aos amigos e os cumprimentam com a normalidade de sempre, fazendo destes quase inimigos, caso os vejam a desinfectar as mãos depois delas se tocarem num cumprimento. Nós não temos nada de virozes! Dizem com alguma repulsa pelo gesto que o amigo teve como prevenção. A verdade é que não temos de ter esse comportamento e devemos, isso sim, respeitar os que levam isto um bocadinho mais a sério. Se não o fizermos, estamos a alimentar ódios e a criar inimigos, sem haver necessidade disso. Estamos todos no mesmo barco. Se alguém, a quem eu estendi a mão, o vejo a desinfectá-la, vou ficar ofendido? Pelo contrário, peço-lhe o líquido e desinfectamos os dois as mãos. É assim que tem de ser, se não quisermos ir parar a uma marquesa ligados a tubos de respiração e depois ao cemitério. Acho que esta coisa é demasiado grande e séria para nos pormos com fanfarronices. Por causa das fanfarronices, alguns países está a sofrer mais por isso. Temos que admitir nas nossas cabeças que de repente se fez um puff e o mundo inteiro mudou. Dificilmente, a curto e a médio espaço de tempo voltaremos à anterior normalidade. Mas se nos mantermos unidos pode ser que nos mantenhamos no curto e o médio espaço de tempo nem seja para aqui chamado.
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